A Rádio Imortal entrevistou na noite dessa quarta-feira (25) o jornalista Lucho Silveira, integrante dos canais ESPN/Disney e comentarista do futebol argentino. Em um bate-papo no "Plantão Imortal", trouxemos para o torcedor gremista um resumo do último trabalho do novo técnico do Grêmio, Gustavo Quinteros, que culminou no título da Superliga Argentina pelo Vélez Sarsfield. A conversa está disponível na íntegra no YouTube da Rádio Imortal.
Confira abaixo os principais pontos da entrevista!
O grande momento da carreira de Quinteros
Mesmo com passagens nas seleções da Bolívia e do Equador e sobretudo títulos nacionais conquistados em três países sul-americanos — Bolívia, Equador e Chile — Gustavo Quinteros vive agora seu melhor momento na carreira. A ida para o Brasil consolida isso, de acordo com Lucho.
"É difícil definir o Quinteros. Ele está vivendo o melhor momento da vida dele como profissional. Porque apesar dele ter uma história, já ter um currículo, ele está alcançando o topo da sua carreira nesse momento. Quando ele recebe a oportunidade no Vélez, que, por mais que não seja considerado um dos cinco grandes da Argentina, é um time campeão da América, campeão do Mundo, tem muita história. E ele conquista o que conquistou, o título nacional, e agora vem essa transferência para o Grêmio, eu consigo dizer que é o melhor momento da carreira dele", afirma o jornalista.
Lado financeiro pesou para a saída do Vélez e ida ao Grêmio?
"A Argentina não paga bem quando se compara ao Brasil. Certamente é a segunda liga do continente mas não paga nem perto do que o Brasil paga, com raras exceções, como o Marcelo Gallardo. O Quinteros certamente não ganhava isso tudo. Mas o que mais pesou foi o aspecto do projeto esportivo. Estamos falando de um clube que ano passado lutou para não cair e que, nesse ano, fez um time com jogadores da casa, com jogadores livres no mercado, ou seja, investimento quase zero. O Vélez não comprou ninguém. O mérito também está aí. Ele pegou um catado, um punhado de jogadores e fez um time. E claro, ele queria mais para o ano que vem, não queria um desmanche", revela Lucho Silveira.

Como foi o trabalho no Vélez, de acordo com Lucho Silveira
Gustavo Quinteros chegou ao Vélez no início de 2024 após uma temporada dramática no fortín. Superando todas as expectativas, o técnico argentino, naturalizado boliviano, leva o clube à conquista do Campeonato Argentino após 11 anos.
"É um treinador que, na Argentina, foi chamado de um técnico construtor, ou mesmo reconstrutor. A gente está falando de um clube que tem muitos problemas econômicos e administrativos. O Vélez se salvou do rebaixamento no ano passado na última rodada, um embate contra o Colón de Santa Fé. Nesse ano o clube veio para somar pontos e não ser rebaixado, e ele consegue muito mais que isso. Chega na final da Copa da Liga, que é a competição do primeiro semestre, e foi derrotado para o Estudiantes. Chega na final da Copa Argentina, e acaba perdendo para o Central Córdoba. E é campeão da Liga Profissional, campeonato de pontos corridos", sublinha Lucho.
"Ele teve de se adaptar, o clube não tinha outra saída. Ele chegou num momento de extrema fragilidade do Vélez. Não foi prometido nada para ele e não foi entregue nada para ele, era o que ele tinha para trabalhar. Estamos falando de jogadores que estavam livres no mercado e jogadores da casa. Foi só o que ele teve na mão para trabalhar nesse ano. E ele conseguiu montar um bom time, a coisa funcionou, o Vélez é o campeão simbólico da tabela anual, o time que mais somou pontos na Argentina em 2024 foi o Vélez. Ele tinha bons nomes, alguns já mais estabelecidos, mas que precisavam de uma retomada. E outros que necessitavam de uma afirmação, e que conseguiram junto ao Quinteros. Foi um projeto que saiu do nada, de uma descrença absoluta, para ser o time que mais somou pontos no ano da Argentina", complementa.

Outras respostas de Lucho Silveira sobre Gustavo Quinteros
Trabalho com jovens jogadores
"Se ele gosta de trabalhar com a base? Se ele tem essa característica eu não sei, mas ele teve que ter, porque ele foi obrigado. E ele conseguiu dar uma subida no nível de jogadores que são jovens ainda e com ele cresceram muito"
Esquema de jogo
"Ele jogava num 4-2-1-3, normalmente era sempre assim. É difícil que ele atue com dois centroavantes mas ele fez em situações específicas. Com três zagueiros ele não jogou, só naquela coisa dos últimos cinco minutos, bota mais um zagueiro para segurar e tal"
Relação com a imprensa
"Não da para fazer muito essa comparação (com Renato) porque nesse quesito o Vélez está muito atrás do Grêmio. Não tem a cobertura que o Grêmio tem. O Vélez tem os 'partidários' como eles chamam, os identificados, mas não tem a mesma ressonância. O Vélez não é uma locomotiva como é o Grêmio nesse ponto. Ele não tinha esse dia a dia as vezes pesado como o Grêmio tem. Ele vivia bem menos nos holofotes que o Renato vivia ou qualquer treinador do Grêmio vai viver. Talvez nos outros países sim, o Colo-Colo é um grande time do Chile, por exemplo"
Relação com jogadores
"Ele teve um momento atritado com alguns jogadores, que a gente percebeu publicamente. Foi num jogo se não me engano contra o River Plate, em que ele substitui o Aquino e mais um, e os caras saem chutando garrafinha, não cumprimentam ele. Algo que é do futebol também né? Vamos combinar, faz parte do processo. Todo mundo tem personalidade. Teve isso no meio da temporada, se falou até em vestiário que estaria em ruptura. Mas se tinha ou não tinha, a volta foi dada porque estamos falando no meio do ano e o título foi há duas semanas. Não dá para imaginar que num vestiário com 40 caras todo mundo vai dizer amém. O importante é que remem para o mesmo lado, e ele conseguiu com esse Vélez"
Gustavo Quinteros é retranqueiro?
"Não é um retranqueiro, muito pelo contrário. É um treinador que tinha uma defesa sólida, claro. O Vélez do Quinteros era um time que tinha por vezes a transição rápida, tinha um camisa 10, o Aquino, que deixava o jogo fluir, não sentava na bola. É um time que era muito mais vertical do que um time de jogo aproximado, aquela coisa mais 'Guardiolesca' de toque de bola"